O dia em que o Evan Dando chutou a cerveja do meu namorado

Pouca gente da grande massa conhece o Lemonheads, mas muita gente do universo “indie MTV dos anos 90” conhece. O grupo de Boston, que surgiu no final dos anos 80 fazendo uma mistura de folk rock e seguindo o estilo independente, pode ser visto por muitos como “one hit wonder”: a banda estourou com o cover de Mrs. Robinson, música do Simon e Garfunkel cuja versão do Lemonheads foi lançada em 1992.

Não sei ao certo se Evan Dando não gosta da fama que a versão trouxe, mas a música não fez parte do setlist que ele e a trupe apresentaram na noite gelada de 13 de julho de 2024 em Florianópolis.

Lemonheads em Floripa?

Achei curioso quando recebi a mensagem de que o Lemonheads iria se apresentar no John Bull, um bar de rock relativamente pequeno, com estilo de pub e que permanece firme por mais de 20 anos na principal avenida da Lagoa da Conceição. Claro, fiquei muito contente: mais uma banda que fez parte da trilha sonora da minha adolescência estava anunciando um show na minha cidade natal. Seria uma apresentação bem intimista!

Inclusive, posso dizer que dei um empurrãozinho para esse show acontecer quando, sete meses antes, fiz contato com a empresária da banda (que por sinal é mulher do Evan Dando e filha do músico Renato Teixeira) para sondar a possibilidade de uma apresentação em Floripa. Foram alguns meses de trocas de mensagens e contatos com outros jornalistas e produtores para, enfim, o show ser marcado (a propósito, a saga dessa história o Marcos Espíndola relatou na coluna dele no site ND Mais).

O Show do Lemonheads no John Bull

O John Bull Floripa não estava cheio — mas também não estava vazio. Florianópolis é uma cidade meio estranha quando falamos de rock autoral (inclusive para bandas internacionais que já tiveram carreiras grandiosas). São poucos os grupos do gênero que conseguem lotar um lugar maior, como um estádio ou uma grande casa de shows. Para um grupo relativamente desconhecido por aqui, o local estava de bom tamanho.

O Lemonheads subiu ao palco perto da meia-noite para uma apresentação de cerca de uma hora. Abriram com Rockin’ Stroll e emendaram Confetti — exatamente como a sequência de abertura do álbum It’s a Shame About Ray, de 1992. Entre as outras músicas tocadas, Into Your Arms, Down About it, If I Could Talk I’d Tell You e The Outdoor Type.

Evan Dando e o chute na cerveja

O show foi, no mínimo, estranho. O vocalista interagiu pouco com a plateia, não deu atenção aos pedidos (muitas vezes bêbados) do público. O resto da banda, tampouco. A maior interação dele com quem estava lá deve ter sido o chute que Evan Dando deu na cerveja do meu namorado.

As pessoas usavam a beirada do palco para apoiar algumas coisas: bolsa, casaco, bebida. E ali estava a cerveja que Evan simplesmente derrubou intencionalmente ao cantar os versos “I’m not gonna not knock things down” (eu não vou “não” derrubar as coisas) da música Style.

Ao final, ficou aquela sensação de que faltou alguma coisa (e não estou falando de algumas das minhas músicas favoritas deles que não foram tocadas). A banda saiu do palco como entrou, sem muita conversa, meio fria, e a plateia ficou sem encore. E nós, sem cerveja, caminhamos para o bar para repor a bebida não não derrubada por um chute do Evan Dando.