Minha primeira vez num festival (e outras experiências em grandes eventos de música)

Experiências, aprendizados e perrengues vividos na plateia de festivais como Hollywood Rock, Lollapalooza, Rock in Rio, Primavera Sound e Close up Planet.

FESTIVAISPEARL JAM

9/27/20258 min read

Se me lembro bem, minha primeira vez num grande festival foi o Hollywood Rock de 1996, no Rio de Janeiro. No lineup do dia: Pato Fu, Supergrass, White Zombie, Smashing Pumpkins e The Cure. Foi numa viagem de férias que começou na rodoviária de Florianópolis com duas amigas (tínhamos 15 anos) e cujo primeiro programa era ir pra Praça da Apoteose pra ver “aquele monte de show”. Hoje, quando olho o lineup, eu penso: “que maluquice colocar White Zombie e Cure no mesmo dia!”

A ideia de escrever sobre essa primeira experiência trouxe lembranças de outros festivais memoráveis para mim: Close Up Planet no mesmo ano; minha primeira vez no Rock in Rio (em 2011); Lollapalooza 2018; e o Primavera Sound 2023. Tentei resumir essas lembranças nesse texto.

Hollywood Rock: meu primeiro grande festival

Era janeiro no Rio de Janeiro. Dá pra imaginar o calor. Foi lá que aprendi sobre beber muita água durante os shows e não gastar toda a energia pulando num show específico (afinal, depois você vai querer curtir o próximo). Eu não carregava nada comigo, nem bolsa. Só a identidade num bolso e dinheiro no outro. Protetor solar? Boné? Tênis? Essas coisas demoraram anos para ganhar lugar no meu checklist de festival (o tal aprendizado que vem com a prática — ou seria com a idade?).

O Hollywood Rock foi minha primeira vez assistindo a uma sequência de bandas — e bandas que eu acompanhava diariamente pela MTV. Não tenho assim tanta lembrança desse dia, apenas que pista e arquibancada eram uma coisa só, não eram ingressos separados. Era possível ir da pista para a arquibancada à vontade. Mas minha recordação sobre “estrutura” termina por aqui. Se você veio em busca de detalhes, sorry, não tenho. Não lembro como eram banheiros, praça de alimentação (será que tinha?), entrada ou saída do evento. Mas lembro dos shows!

O Supergrass tinha lançado o disco de estreia (I Should Coco) há menos de um ano. O hit Alright estava na ponta da língua do público. Smashing Pumpkins também estava no auge com o lançamento, em outubro de 1995, de Mellon Collie and the Infinite Sadness - aquele álbum duplo que tem 4 cds e lançou o Pumpkins a um novo patamar de banda e de videoclipes. White Zombie era outra banda que não saía da MTV com o clipe de More Human Than Human e estava no embalo do disco Astro-creep 2000, também de 1995. Só o Cure que não lançava nada desde 1992 e, mesmo assim, veio como headline da noite.

Eu lembro de pular no show do Supergrass, de bater cabeça no White Zombie, de chorar quando o Pumpkins tocou Disarm, de descansar nas arquibancadas entre uma apresentação e outra e de ser a única das amigas a descer da arquibancada pra ver o show do Cure.

Com 15 anos eu não conhecia tanto de Smashing Pumpkins e de Cure quanto conheço hoje, e mesmo assim, sei que aproveitei bastante os shows. A apresentação do Pumpkins foi curta e bem pesada. Tocaram 12 músicas, entre Zero, Bullet With Butterfly Wings, Today, Rocket, e fecharam com X.Y.U. Aliás, eu achei no Youtube um vídeo na íntegra desse show do Smashing Pumpkins no Hollywood Rock.

O show do Cure foi longo e muito bonito. Friday I’m in Love era uma música relativamente recente e, talvez por isso, foi colocada no meio do setlist, e não no encore como acontece atualmente. Fascination Street no comecinho, Just Like Heaven na primeira meia hora. No final, voltaram ao palco algumas vezes e encerraram com A Forest. Foi uma apresentação perfeita para finalizar a noite (eu também achei no Youtube todo o show do The Cure no Hollywood Rock).

Silverchair e Sex Pistols

Ainda em 1996, fui ao finado Close Up Planet, em São Paulo. Na lista de bandas: Inocentes, Cypress Hill, Bad Religion, Spacehog, Silverchair e Sex Pistols. Essas duas últimas não saíam do meu discman.

Ah, ser adolescente e descobrir bandas “novas”! Lembro como era empolgante conhecer algo novo e ir atrás dos discos, das músicas. Com o Sex Pistols foi assim — como eles tiveram uma carreira curta e lançaram apenas um disco, não foi tão demorado escutar tudo. E o Silverchair, esse sim, um grupo novo no circuito e bem do “meu estilo” nos anos 90: alternativo com aquela pegada grunge.

Pra esse festival eu fui de excursão em um microônibus bem capenga. Também não levei nada nas mãos, acho que nem casaco! Choveu e eu voltei com as roupas ainda úmidas em uma viagem de cerca de 12 horas num veículo que não tinha nem banheiro. Demorou 15 anos para eu encarar outro festival desse porte.

Pula pra 2011: minha primeira vez no Rock in Rio.

(mais) Uma experiência molhada

Fui ao Rock in Rio 2011 para rever o Guns N’ Roses depois de seguir a banda em três shows no Brasil um ano antes. Esse show de 2011 foi aquele em que o Guns demorou horas (mais do que o normal) pra subir ao palco porque chovia muito, muito mesmo — inundou o palco. Quando finalmente entraram para a apresentação, o Axl vestia uma capa de chuva amarela. Enquanto a banda tocava, algumas pessoas passavam o rodo (literalmente) no palco para remover a água.

Nesse dia também teve apresentações da Pitty, do System of a Down e do Evanescence. Minha primeira vez num Rock in Rio se resumiu em: chuva, tudo muito longe, comida cara e lama. Não fui em nenhum estande de patrocinador, nenhuma experiência além-música. E voltei quando o sol já raiava, num ônibus lotado e quase dormindo em pé.

Foi realmente um “perrengue” e desisti de ir a grandes festivais por alguns anos, até o Lollapalooza de 2018.

Pearl Jam no Lollapalooza

Eles já tinham vindo pro Lolla em 2013, mas eu estava “traumatizada” do Rock in Rio e não fui. Porém, em 2018 eu estava pronta para encarar tudo isso outra vez. Foram três dias seguidos para ver as headliners: Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam e The Killers.

O Lollapalooza é conhecido por ter “trocentas” bandas por dia, mas eu estava ali mesmo por essas três. Red Hot e The Killers eu nunca tinha visto ao vivo. Já o Pearl Jam, bem, quem me conhece sabe que considero essa a "banda da minha vida” (e quem chegou aqui e não me conhece, lendo um ou outro texto do blog, logo vai entender o que significa isso).

Fiquei decepcionada com o show do Red Hot, que encerrou a primeira noite. Chato, sem muita interação com o público, e não tocaram Suck my Kiss, minha música favorita deles (poxa, que absurdo, como assim, não viram que eu estava na plateia?). Pensei que poderia ter sido uma experiência ruim porque eu estava muito longe do palco, mas no The Killers eu estava longe igual e o show foi muito animado, divertido — foi outra experiência.

O Killers foi a última atração da noite de domingo, e o que eu vi foi um público animado, dançando e cantando. A banda é de Las Vegas e o show deles lembrava um pouco aquela cidade, com muitas luzes cenográficas e backing vocals fazendo introduções que remeteram às apresentações de cabaré e showgirls. Mr. Brightside (provavelmente a música mais conhecida deles) encerrou o festival, fechando, no auge, os três dias do Lollapalooza 2018.

Nesses dois dias eu cheguei ao evento depois das 17h e ainda circulei bastante: palcos diferentes, lojinhas, bares. Peguei fila pra carregar a pulseira, fila pro pipimóvel, fila pra comprar comida (e comidas caras, por sinal), enfim, deu pra sentir bem o clima do Lollapalooza.

Já no sábado, dia do Pearl Jam, cheguei cedo perto das 14h. Achei um lugar próximo à grade que separava a ala vip do público geral, e lá fiquei até o final da noite.

Por sinal, eu achei um absurdo aquela área vip ali. E na minha cabeça de fã o Pearl Jam também achou, pois eles fizeram um show com um setlist completamente diferente de sets que se esperam de festival.

Teve muita música lado B. Abriram com Wash (lado B do primeiro disco), chamaram o Perry Farrell ao palco para um cover do Jane’s Addiction, e tocaram ainda covers do Talking Heads (David Byrne era um dos headliners da noite num palco secundário), Pink Floyd e The Who (a clássica Baba o’Riley que faz parte dos shows do PJ desde sempre — e sempre que eles tocam essa música eu me emociono porque me remete ao meu primeiro show deles). O show do Pearl Jam, quase na íntegra, foi transmitido ao vivo pelo canal Multishow.

Na minha opinião, ver a banda favorita num festival não é a melhor opção, mas quando está no lineup, “a gente faz um esforço”. E meu cálculo de Lollapalooza foi de que o esforço valeu a pena! Até porque viajar para um festival de música para ver e ouvir bandas que a gente gosta nem é tanto esforço assim.

(Parênteses para falar que três dias antes do show do Pearl Jam no Lollapalooza eu havia visto a banda tocar no Maracanã, no Rio; e alguns dias depois do Lolla eu voltei a São Paulo para ver a apresentação solo do Eddie Vedder).

Passaram-se cinco anos (e uma pandemia) para eu voltar a São Paulo para encarar outro festival de música.

Os sons da Primavera

Era final de um domingo de primavera quando o Cure subiu ao palco como a última — e a principal — atração do Primavera Sound 2023. O festival que mal chegou ao Brasil (e pelo visto já foi embora, pois só tivemos duas edições) e é conhecido por montar um lineup com artistas novatos e promissores, teve uma edição bem eclética e pouco “diferentona".

Além do headliner principal, contou com The Killers, Bad Religion, Pet Shop Boys, Beck, Marisa Monte, Slowdive, El Mató a un Policia Motorizado, The Hives e outros artistas diversos. Atrações (mais) alternativas, aquelas selecionadas só para as edições sul-americanas, aquelas só pro Brasil… porém, pra mim, se resumiu em uma mistura de som dos anos 90 com uma pontinha de anos 2000.

Comprei o ingresso pelo The Cure, fiquei por todas as outras. Rever The Killers me animou. Ver os outros artistas somaram muitos pontos positivos. E os anos de “perrengues” e aprendizados em festivais anteriores me prepararam para esse evento: pegamos um hotel relativamente perto do Autódromo de Interlagos (local do evento) e bem próximo à estação de metrô/trem para não precisar trocar de linha; levamos chocolate, frutas, casaco, lenço umidecido, analgésicos, copo, chiclete. Para finalizar, look confortável composto de boné, camiseta ou regata (eu ainda usei maiô no segundo dia), shorts e tênis.

Back to the 90s

Beck e Bad Religion me fizeram voltar à adolescência. Na apresentação do Beck, ainda à luz do dia, foi muito bacana ver o público se animar já na primeira música (Devil’s Haircut) e cantar em coro Loser e Where It’s At.

A Marisa Monte fez um show muito bonito. Por alguns minutos, voltei mais ainda ao passado, lá pros anos 80 quando vi num show no CIC, em Florianópolis, ela jogar chocolates pra plateia enquanto cantava a música Chocolate. No Primavera Sound essa música não entrou no set, mas pro encore ela chamou ao palco Roberto de Carvalho, que recém havia perdido a mulher, Rita Lee, e fez uma linda homenagem com duas músicas da Rita: Doce Vampiro e Mania de Você. Essa apresentação me fez chorar algumas vezes.

E o que falar do Cure? Sabe quando você vai num show e escuta (quase) todas as músicas que quer ouvir? Foi assim. Condensaram mais de 40 anos de carreira em cerca de três horas de show. Já no final, a banda voltou ao palco duas vezes.

No primeiro encore, um clima mais down com Want, Plainsong, Disintegration. O segundo encore teve outro ritmo com Friday I'm in Love, Close to Me, Why Can't I Be You? e Boys Don't Cry — assim mesmo, nessa ordem. Os clássicos dos anos 80 e 90 da banda encerraram o festival com uma apresentação redondinha e emocionante. E que, por alguns momentos, me transportaram de volta aos meus quinze anos, lá praquele Hollywood Rock de 1996.