Meu primeiro show do Guns N' Roses, em 1992, foi também meu primeiro grande show

No último dos três shows da turnê Use Your Illusion no Brasil teve direito a tudo aquilo que falam dos shows do Guns dos anos 90. Mas esse foi especial simplesmente porque eu estava lá!

SHOWSGUNS N ROSES

9/4/20253 min read

Era quase meia-noite quando as luzes apagaram no autódromo. O público, em pé desde cedo e acostumado aos atrasos da banda, ainda assim reclamava do tempo de espera. Mas finalmente os holofotes da plateia se apagaram e as luzes do palco acenderam. Aos primeiros acordes de Welcome to the Jungle, eu estava, finalmente, vendo a minha banda favorita pela primeira vez. Era a noite de 13 de dezembro de 1992.

Eu tinha 12 anos. Eu olhava pra banda com uma admiração que existe até hoje. Era uma admiração mais lúdica e era tudo muito novo. E pra mim, uma pré-adolescente que estava entrando nesse mundo embalado ao som de rock 'n' roll, ainda existia um universo de música inteiro para conhecer.

O Autódromo de Jacarepaguá, que foi palco desse show do Guns N' Roses, hoje não existe mais. No mesmo lugar construíram a cidade olímpica dos Jogos do Rio, em 2016, e depois passou a ser o local de realização do Rock in Rio. Se hoje, chegar à Cidade do Rock já é longe para quem está nas áreas mais centrais da capital fluminense, imagina isso há mais de 30 anos: parecia uma aventura (quase que um rali).

E, sim, tudo foi uma aventura naquela noite. E não porque eu estava no meio da selva carioca, lama e grama e gente gritando. A aventura estava em ver um show daquela magnitude, do porte que eram os shows da turnê Get in The Ring / Use Your Illusion. Aventura em ver no palco aqueles músicos cujos nomes e sobrenomes eu sabia de cor — Axl, Slash, Duff, Dizzy, Matt, Gilby (a formação quase "clássica" do Guns).

A maior banda do mundo

A apresentação foi típica dos shows do Guns que a gente assistia nos vídeos, na MTV, ou que lia nas resenhas de revistas e jornais daquela década. O show no Rio teve direito a tudo: o solo de guitarra do Slash culminando na música-tema do filme O Poderoso Chefão para fazer a intro de Sweet Child O' Mine; o solo (interminável) de bateria do Matt Sorum antes de You Could Be Mine; Duff cantando o cover de Attitude, dos Misfits; a petulância do Axl de parar o show de repente e ameaçar ir embora porque alguém do público fez algo que ele não gostou (ele parou o show por três vezes!) e a plateia xingar ao coro de “filho da puta! filho da puta!”, até a banda retomar a música exatamente onde tinha parado. Bingo! Estava tudo lá.

A turnê que passou pelo Brasil no final de 1992 rodou o mundo todo — inclusive, foi pra Argentina duas vezes — e foi registrada em vídeo nos shows que fizeram em Tóquio, no Japão. Aliás, deve ter tudo no Youtube (tem mesmo: aqui está o link desses shows do Guns em Tóquio), mas naquela época era preciso comprar as fitas VHS ou conhecer alguém que tivesse uma das fitas pra emprestar.

O Guns N' Roses estourou no primeiro álbum, mas o auge veio com os discos duplos Use Your Illusion, lançados em setembro de 1991 e que foram o tema dessa turnê mundial. Por isso mesmo o repertório desse show do Rio teve tudo o que o fã tinha direito: Jungle, Easy, Mr. Brownstone, Patience, November Rain, Don’t Cry, os covers Live and Let Die e Knockin’ on Heaven’s Door, as incríveis Double Talking Jive e Bad Obsession, Yesterdays, Civil War, além, é claro, de Sweet Child e o encerramento clássico com Paradise City.

Mesmo tanto tempo depois, se duvidar, eu consigo não só citar todas as músicas do setlist, mas, se fizer um esforço, sou capaz de lembrar até a ordem em que foram tocadas. Um show longo cheio de hits, atitude e rock ‘n’ roll. Não é à toa que se autointitulam "a maior banda do mundo". Sem querer ser parcial, mas já sendo: eu concordo!

Apesar dos jornais resenharem a apresentação como “apática”, não é essa a lembrança que eu tenho. Talvez porque esse foi o primeiro grande show que eu fui. Talvez por ter sido um show do Guns N’ Roses, a minha "banda do coração" e que até hoje vou defender numa mesa de bar (o que, por sinal, já aconteceu e está registrado em uma entrevista pra um jornal em 2014). Talvez por ter sido tudo o que eu esperava ver e ouvir (e sentir) no show da minha banda favorita.

É bem provável que seja tudo junto mesmo. Afinal de contas, eu vivi algo que me marcou e que levo comigo como uma das primeiras e mais incríveis experiências que já tive. E que é, até hoje, balizador para todos os shows que fui — e que continuo indo — depois desse grande espetáculo.

ps. Em 2010 escrevi sobre esse show no meu finado blog Diário de uma Gunner.